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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Sereia da Praia

Noite de Lua cheia. Boiando sobre as sossegadas ondas que docemente vinham acabar-se na areia branca, uma mulher de longos cabelos de oiro parecia ondular também. O tronco nu era de uma perfeição raramente vista. E o seu rosto tão suavemente belo que um pescador, deslumbrado com a visão, não sentiu qualquer lascívia a perturbar-lhe o encanto.
Ela aproximou-se. Quando já estava muito perto, o homem percebeu, cheio de temor, que o seu pescoço estava desfigurado pelo que pareciam ser guelras. E, da cintura para baixo, era igual a um peixe. Na aflição de quem julgava ter o Diabo ao pé de si, esconjurou a aparição. No mesmo instante, a mulher, que um qualquer poder maléfico transformara em sereia, voltou à perfeição da forma humana.
Não sei se conhecias esta lenda, que não nos diz se os dois se casaram e viveram felizes para sempre. Mas podemos imaginar-lhes esse destino ditoso. Esta praia merece que a felicidade a contemple. Tão bela é que, no mapa que Luís Teixeira fez dos Açores em 1584, lhe chamou “Plaia Hermosa”. E porque o mapa foi feito para D. Filipe I de Portugal, todas as legendas do mapa estão no mesmo castelhano arcaico.
Que ela é formosa percebe-se logo à primeira vista. Por isso dispensa o adjectivo, que nunca foi usado pelos naturais da ilha. Mas Luís Teixeira boas razões teria para não se ficar pelo simples nome de Praia. E ele conhecia todas as dos Açores, sem dúvida, porque, na legenda que explica o mapa, escreveu em latim: “Estas ilhas foram percorridas com a maior diligência, e com todo o cuidado as descreveu o português Luís Teixeira, cosmógrafo da Majestade Real. Ano de Cristo de 1584.”

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