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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lenda de um Baleeiro da Ilha do Pico

A Lenda de um Baleeiro da Ilha do Pico é uma tradição da ilha do Pico, no arquipélago dos Açores, que fala da coragem do que é ser-se baleeiro, e dos perigos que se corria para ganhar o pão nosso de cada dia.
A lenda passa-se há muito tempo, numa manhã ensolarada na localidade de São João do Pico, logo depois do raiar da aurora. O sol levantava-se para os lados das Lajes do Pico e a cor verde dos vinhedos e dos milheirais destacava-se por entre o negro das pedras queimadas dos vulcões.
Os homens dirigiam-se para as suas terras para a jorna do dia, para sachar o milho, bater tremoço, apanhar batatas ou cuidar das das uvas. Nas suas cozinhas, as mulheres preparavam o almoço que naqueles tempos era quase sempre composto por sopas de bolo, papas de milho ou batata com peixe.
Subitamente soou alarme de baleia à vista. Algures numa das vigias de baleia estrategicamente colocadas ao longo da costa foram disparados foguetes. Os homens largaram o que faziam. Os sachos caíram para o chão, os alviões ficaram enfiados na terra nos locais onde estavam. As burras de milho foram abandonadas com as canas por amarrar. Os animais foram presos a um galho de árvore próximo e os homens correram para os cais. As mulheres em casa prepararam uma merenda apressada e também elas correram para o cais a levar ao comida aos maridos numa saca de retalhos de pano antes de eles partirem para o mar.
Os primeiros a chegar arriaram os botes baleeiros, pondo-os na água, e partiram assim que tinham a tripulação completa. No cais, as mulheres ficaram a chorar sem saber se na luta entre o homem e o grande animal alguém morreria, como frequentemente acontecia.
Depois de algumas milhas de navegação à vela com o vento a favor, avistaram a baleia ali próxima. Era uma grande baleia adulta, um espermacete com mais de cem barris de óleo segundo os cálculos, o que seria uma fortuna. Logo se gerou com grande reboliço nos botes, uma baleia daquele porte não se via todos os dias. Representava não só a comida ganha para muitos dias, mas também um prazer para os homens que estavam habituados ao mar e à batalha desta pesca.
As velas foram arreadas e os homens começaram a remar para se aproximarem da baleia, que resfolgava, soltava esguichos de respingos no ar, mergulhava para voltar a aparecer metros mais á frente. No bote que primeiro se conseguiu pôr em posição, o arpoador curvara-se para a frente, fixara o olhar na baleia e acertara o arpão.
Ferida, a baleia acelerou o seu nadar, afastando-se do bote e levando no dorso o arpão amarrado a uma corda forte, que se ia desenrolando de uma selha no fundo do bote. A corda não teve comprimento suficiente e foi amarrada a uma segunda corda, numa segunda selha, até que não havia mais cordas. O trancador pegou na parte da corda que ainda estava na celha e antes que ela acabasse, amarrou-a à sua cintura. Assim, foi arrancado do bote e levado pelo mar, puxado pela baleia que nadava para o desconhecido, sem que alguém tivesse tempo de intervir.
Podendo contar apenas com velas e remos para navegar, os botes não tinham velocidade para perseguir o animal, mas deram inicio a uma busca provavelmente fútil. Ao chegar da noite tiveram que rumar para terra, abandonando o trancador. A família deste vestiu-se de luto e as mulheres choraram e carpiram de dor durante toda noite.
Quando a manhã do dia seguinte nasceu, saíram novamente botes para o mar numa procura por muitos considerada vã, mas que era necessário, mais que não fosse se não por descargo de consciência. Era uma tentativa de encontrar o corpo do trancador para lhe ser dado um enterro digno.
Depois de muitas milhas de afastamento da costa, avistaram na linha do horizonte, que no mar é sempre baixo, uma mancha negra, e estranhando o fenómeno rumaram para lá. Ao chegarem encontraram uma grande baleia já morta a flutuar e em cima dela, de pé, o trancador, encostado ao cabo do arpão.
Perfeitamente bem, disse: "Agora é que vocês chegam? Tenho estado aqui toda a noite à espera!". Fumava um grosso cigarro, embrulhado em casca de milho, como se estivesse sentado a uma mesa. Reza a lenda que ele nunca disse o que se passou nem onde foi buscar o cigarro de folha de milho nem o lume com que o acendeu.

Lenda da Coroa Real de Cedros (2º versão)

A Lenda da Coroa Real de Cedros é uma tradição da ilha do Faial, no arquipélago dos Açores que nos fala do tempo do domínio castelhano nas ilhas dos Açores após a queda da ilha Terceira, onde durante algum tempo foi só e apenas Portugal.
A lenda passa-se no tempo da ocupação das ilhas dos Açores pelas forças do rei D. Filipe II de Espanha, que foi D. Filipe I de Portugal. Já antes estas ilhas eram frequentemente assediadas e muitas vezes assaltadas por barcos de piratas magrebinos e corsários que vinham do mundo moçárabe, que tinham facilidade em atacar as ilhas pouco defendidas. Atacavam de surpesa, muitas vezes nos dias de nevoeiro ou a coberto da noite, outras vezes em plena luz do dia. Assaltavam, roubavam e muitas vezes levavam com eles homens da terra para trabalharem nos barcos como escravos.
Num certo dia, uma embarcação pirata comandada por um rei mouro apareceu nas costas da ilha do Faial para atacar a ilha. Mas como a embarcação foi avistada a tempo, as populações locais tiveram tempo de se preparar. Os piratas encontraram uma forte resistência e foram obrigados a fugir de forma precipitada sem conseguirem pilhar a terra.
Na fuga apressada, o rei mouro esqueceu-se da sua coroa, que tinha posto sobre um muro de pedra quando combatia. A coroa era feita de prata lavrada e enfeitada em toda a volta com lindos ramos desenhados no metal luzidio. Já longe da costa, o rei mouro apercebeu-se da falta da coroa e imediatamente se lembrou que ela tinha ficado em terra. Não querendo perder o seu símbolo de poder, resolveu voltar à ilha para a recuperar. No entanto e como não podiam voltar à ilha como piratas para não serem novamente atacados pelos locais, disfarçaram-se de marinheiros comuns.
Depois de procurar onde o rei a havia deixado, deram início a uma busca pelo resto da ilha. Perguntaram aos habitantes se tinham visto uma coroa de prata, recebendo respostas negativas. Entraram em lojas de comércio e em todos os locais onde ela eventualmente poderia estar e nada. Depois de as populações começarem a desconfiar de tão estranha procura, os piratas tiveram de partir para a sua terra no Norte de África, para nunca mais voltar.
A coroa do rei pirata tinha sido encontrada por uma mulher da localidade dos Cedros, que quando soube que andavam à procura dela, desconfiou que era os piratas e tratou de a esconder como melhor pode - levantando as saias e metendo-a numa perna, como quem enfia um anel num dedo. Aí a conservou até ter a certeza que o rei se fizera ao mar, desistindo para sempre do precioso objecto.
Mas sabendo do valor do objecto que tinha consigo, e não desejando que os seus conterrâneos soubessem que o tinha, deixou-o ficar muito tempo na perna, que ao fim de alguns dias começou a inchar e a doer. Acabou então por dizer que tinha a coroa, mas como a perna estava muito inchada, a coroa tinha ficado presa. Puxaram de um lado e puxaram do outro, tiveram de lavar a perna com água e sabão de cinza para a pele ficar mais escorregadia, mas mesmo assim a coroa não saíu.
Assim, a população não teve outra alternativa senão cortar a coroa por um lado para a poderem tirar, e depois voltaram a soldar cuidadosamente a parte cortada. O objecto ficou para a freguesia dos Cedros, onde morava a referida mulher cujo nome se desconhece. Com o passar dos anos a coroa passou a ser usada pelos locais nas festas do Divino Espírito Santo.
Esta coroa tinha 13 Centímetros de altura e continha engastada uma gema de cor da qual se ignora o verdadeiro valor. Com o passar dos anos e com medo de estragar tão simbólico e rico objecto, foi mandada fazer uma nova coroa, uma imitação da primeira que passou a ficar sempre guardada.
Actualmente a antiga coroa continua a ser guardada todos os anos em casa do mordomo da festa do Espírito Santo e pode ver-se, ainda perfeitamente, tantos anos depois, num dos lados, o lugar onde a mesma foi cortada e de novo soldada para poder sair da perna da mulher que a tinha guardado.

Lenda das Sete Caldeiras

Reza a lenda que o filho do agricultor, o João, tinha todos os dias de ir buscar água para a casa de seu pai visto próximo da mesma não existir qualquer nascente.
O João, como todos os jovens rapazes da sua idade passava a vida a brincar e sonhar, simples e de coração puro, acreditava num mundo melhor e todas as pessoas que o conheciam diziam que ele era de coração simples, puro e bom e que um dia ser realizar grandes feitos.
Um desses dias em que o João ia nos seus afazeres pelo caminho fora carregado com duas bilhas de água que tinha ido buscar a uma nascente longe de sua casa para ser usada em casa do seu pai, ia como sempre no mundo da lua, a sonhar acordado. Pelo caminho encontrou uma poça de água proveniente das chuvas e parou para descansar e brincar um pouco. Falando consigo mesmo disse em voz alta: - Dizem as pessoas que noutros locais há lindas lagoas e caldeiras, na minha ilha não há, mas não faz mal, eu vou-as fazer.
Esquecendo-se do trabalho que já tinha tido ao ir buscar água tão longe de casa pegou numa das bilhas de barro que trazia cheia de agia e despejou-a no chão. Para seu espanto e com a mesma facilidade com que derramara a água e sonhara em construir lagoas viu crescer aos seus pés um grande lago que se alojou no fundo de uma caldeira.
Felicíssimo com o acontecimento o João desatou aos pulos de alegria e pensou de si para si: “daqui para a frente sempre que encontrar poças de água, vou fazer o mesmo!”
Dito e feito, encontrou logo á sua esquerda, poucos metros mais á frente outra poça de água e não perdendo tempo, com confiança no que fazia, vazou outra bilha de água e ficou a ver a água a espraiar-se e a dar origem a uma lagoa, desta vez, muito, muito funda.
Cheio de contentamento e esquecendo-se do trabalho que lhe dava ir buscar água tão longe e visto que já tinha despejado a que tinha ido buscar para a casa do pai, voltou á nascente com o intuito de ir buscar mais.
Mal regressava com as bilhas cheias começou novamente e sonhar e encaminhado pelos seus sonhos de criança foi deambulando pela ilha encontrando pelo caminho sete poças onde despejou as suas bilhas dando assim origem a sete belas lagoas.
Reza a lenda que foi assim se formaram a Lagoa Funda (Cedros) das Lajes, onde poderia flutuar um grande transatlântico. E varias outras menos fundas, como a Caldeira Rasa, cujas margens são muito lodosas e tidas como perigosas. Das brincadeiras do João nasceram ainda a Lago Branca, a Lagoa Seca, a Lagoa Comprida, a Lagoa Funda e a Lagoa da Lomba. Todas lagoas diferentes, cheias de encantos e de águas límpidas e puras como os pensamentos do João que as crio.

Lenda da Princesa e do Pastor no Reino das Sete Cidades

Durante um dos seus passeios pelos campos conheceu um pastor, filho de gente simples do campo que vinha do trabalho com os seus rebanhos. Conversaram quase toda uma tarde das coisas da vida, e viram que gostavam das mesmas coisas. Dessa conversa demorada veio a nascer o amor. Desde que o amor entre eles floresceu passaram a encontrar-se todos os dias jurando amores eternos.
No entanto a princesa já com o destino traçado pelos seus pais, tinha o casamento marcado com um príncipe de um reino vizinho. E quando o seu pai soube desses encontros com o pastor tratou de os proibir concedendo-lhe no entanto um encontro derradeiro para a despedida.
Quando os dois apaixonados se encontraram pela última vez, choraram, e choraram tanto que junto aos seus pés foi aos poucos crescendo duas lagoas. Uma das lagoas, com águas de cor azul, nasceu das lágrimas derramadas pelos olhos também azuis da princesa. A outras, de cor verde, nasceu das lágrimas derramadas dos olhos também verdes do pastor.
Para o futuro ficou, reza a lenda, que se os dois apaixonados não puderam viver juntos para sempre, pelo menos as lagoas nascidas das suas lágrimas ficaram juntas para sempre, jamais se separando.

A Sereia da Praia

Noite de Lua cheia. Boiando sobre as sossegadas ondas que docemente vinham acabar-se na areia branca, uma mulher de longos cabelos de oiro parecia ondular também. O tronco nu era de uma perfeição raramente vista. E o seu rosto tão suavemente belo que um pescador, deslumbrado com a visão, não sentiu qualquer lascívia a perturbar-lhe o encanto.
Ela aproximou-se. Quando já estava muito perto, o homem percebeu, cheio de temor, que o seu pescoço estava desfigurado pelo que pareciam ser guelras. E, da cintura para baixo, era igual a um peixe. Na aflição de quem julgava ter o Diabo ao pé de si, esconjurou a aparição. No mesmo instante, a mulher, que um qualquer poder maléfico transformara em sereia, voltou à perfeição da forma humana.
Não sei se conhecias esta lenda, que não nos diz se os dois se casaram e viveram felizes para sempre. Mas podemos imaginar-lhes esse destino ditoso. Esta praia merece que a felicidade a contemple. Tão bela é que, no mapa que Luís Teixeira fez dos Açores em 1584, lhe chamou “Plaia Hermosa”. E porque o mapa foi feito para D. Filipe I de Portugal, todas as legendas do mapa estão no mesmo castelhano arcaico.
Que ela é formosa percebe-se logo à primeira vista. Por isso dispensa o adjectivo, que nunca foi usado pelos naturais da ilha. Mas Luís Teixeira boas razões teria para não se ficar pelo simples nome de Praia. E ele conhecia todas as dos Açores, sem dúvida, porque, na legenda que explica o mapa, escreveu em latim: “Estas ilhas foram percorridas com a maior diligência, e com todo o cuidado as descreveu o português Luís Teixeira, cosmógrafo da Majestade Real. Ano de Cristo de 1584.”

Lendas das Sete Cidades

Embora sejam apenas duas as mais divulgadas, o certo é que se conhecem seis. São todas elas, lendas de criação literária, porque; vendo bem, o Povo mal as conhece.Uma lenda muito simples, mas cheia de poesia , fala-nos do antigo reino das Sete cidades, cujos Reis possuíam uma filha muito linda. Essa princesa amava a vida campestre, motivo porque andava muito pelos campos, contemplando montes e vales, aldeias e costumes. Um belo dia encontrou um jovem pastor. Conversou demoradamente com ele e, dessa conversa nasceu o amor. Passaram, por esse motivo, a encontrar-se todos os dias, jurando amor e afeição mútua. Mas a Princesa tinha o destino marcado porque um Príncipe, herdeiro de outro reino, pretendia a sua mão. Havia, pois que suspender o devaneio com o pastor. Assim foi a Princesa proibida de se encontrar com ele, embora lhe consentissem uma despedida. Mas, ao encontrarem-se pela última vez, choraram ambos, tanto, tanto, que aos seus pés se formaram duas lagoas: - uma azul, feita das lágrimas derramadas dos olhos azuis da linda Princezinha; outra, verde, devido às lágrimas caídas dos olhos verdes do jovem pastor. Os dois namorados se separaram para todo o sempre, mas as lagoas feitas das lágrimas de ambos, essas jamais se separaram.

Outra lenda acerca da famosa região é a que nos fala de um reino da velha Atlântida, e que tinha como monarca o Rei Brancopardo e a Rainha Branca-Rosa. Ambos viviam no desgosto de não ter filhos. Uma bela noite, o Rei teve uma visão que lhe prometeu a vinda de uma filha muito linda, mas com a condição de só a verem quando completasse vinte anos. Até lá, a Princesa viveria em Sete Cidades, que o Rei, seu pai, mandaria construir. Brancopardo cumpriu o determinado:- mandou construir as cidades, enviou a princesa para as mesmas, sem a ter visto sequer - e aguardou que os vinte anos se completassem. Mas não pôde, coitado, chegar, ao fim de todo esse tempo. A ansiedade por ver a filha chegou ao ponto de lhe não caber no peito e, desafiando os deuses, caminhou para as Sete Cidades. Aí não o deixariam abrir os portões da muralha. E, no precioso momento em que ele os arrombava, um tremendo cataclismo vulcânico subverteu todo o reino. As Sete Cidades onde a princesa vivia ficavam precisamente onde hoje se abre a concha do maravilhoso vale. No fundo da Lagoa Verde ainda estarão os sapatinhos verdes que a princesa trazia nos pés, e, no fundo da Lagoa Azul, também estará o chapeuzinho azul que ela trazia na cabeça...

Quando Tarik e Musa invadiram a Península Ibérica, sete bispos Cristãos se teriam refugiado numa remota ilha - a Antília, ou Ilha das Sete Cidades. O desejo de alcançar essa ilha, tornar-se-ia, pouco depois, uma das maiores preocupações do Homem. Para o Oriente ficava o reino do Preste-João ; para o Ocidente, a Antília, até que um navio português - "Nossa Senhora da Penha de França" - depois de uma grande tempestade, aportou a ilha maravilhosa, onde esteve fundeado três dias. Dois frades teriam ido a terra, contactado com o Monarca, visitado palácios, deparado com tipos, costumes e linguagem muito semelhante aos dos portugueses. Ao fim dos três dias, mal os dois religiosos regressaram a bordo, a ilha desapareceu, como por encanto. Muitos anos mais tarde, o mesma ilha acabaria por revelar-se definitivamente aos portugueses.Acaso ainda hoje, a visão deslumbrante do Vale das Sete Cidades não aparece e desaparece, como região sobre que pairam, na verdade, a luz e a névoa de um estranho mistério ?
Eufémia era jovem e formosa, filha do Rei Atlas e neta de Júpiter. A sua alma era tão bela, como o seu corpo e o seu espírito andava sempre tão alto que não quis casar com nenhum dos dez filhos de Netuno, monarca de outros tantos reinos de Atlântida.Mas Eufémia foi abrasada, já no outro mundo, pela Fé Cristã, pelo que desejou voltar à Terra, para espalhar o bem: E o seu desejo foi satisfeito.Puseram numa ilha, chamada das Sete Cidades, onde a miséria e a dor desapareceram de todo. Decorridos tantos séculos, há quem acredite que a bela Eufémia habita ainda a ilha, transformada numa Solanácia, cujas folhas têm excelente aplicação medicinal. "Aquele que beber deste mágico filtro espiritual fica curado das suas mágoas, defendido dos seus infortúnios". Haverá, acaso, alguém que queira abalançar-se a desencantar a bela Eufémia, ainda agora transformada em erva bem-fazeja nos matos das Sete Cidades?
Genádio tivera uma mocidade de aventuras. Filho mimado e rico, possuía, além do mais, poderes especiais de migromante. Mas, certo dia, Genádio foi levado a mudar de vida. Fez-se padre e anacoreta, consagrando toda a sua existência ao Senhor. Tempos depois a fama das suas virtudes chegou ao conhecimento do Sumo Pontífice que o fez bispo, e mais tarde, arcebispo. Uma noite puseram-lhe uma criança recém-nascida junto da porta da Sé. Era uma linda menina, que logo foi recolhida. Rodeada de todos os carinhos, foi educada como princesa.E chegou a altura das hostes de Mafamede invadirem a Península. E então que o arcebispo Genádio reúne os seus bispos, prepara uma frota e faz-se ao mar levando consigo a sua menina. Vão todos desembarcar numa ilha onde cada um dos referidos bispos funda sua cidade.Entretanto a menina cresce. Cresce e sonha. Sonha e espera. As suas confidências pare com as aias chegam ao conhecimento do Arcebispo. Este, cioso da pureza da jovem, prepara-se para a defender de quem a possa pretender. E recorre as sues antigas práticas de malas-artes, conseguindo que a ilha se oculte a quem dela se aproximar. Mas uma certa manhã, eis que surge uma caravela rumando para a ilha e que traz desenhada nas velas a Cruz de Cristo.Os sacerdotes oram nos túmulos. E quando a caravela já está perto da terra, Genádio recorre aos extremos do seu satânico poder. E a formosa ilha transforma-se em enorme vulcão cuja cratera é a própria região das Sete Cidades onde os bispos de Genádio haviam fundado as suas dioceses.
A última lenda do ciclo das Sete Cidades é o romance da Ilha Encantada onde os marinheiros portugueses teriam aportado, aí deparando com cidades cheias de palácios sumtuosos. Os habitantes da terra, e os seus visitantes mutuamente se admiraram, mas eles temendo uma emboscada daqueles, depressa se fizeram ao mar, indo contar ao Infante tudo quanto haviam visto.Tomados de grande entusiasmo, os portugueses organizam então uma grande armada e rumam de novo à ilha encantada. Mas quando aí chegam, nem cidades, nem palácios, nem habitantes. Só a ilha existia, formosa como sempre. No extremo ocidental, em vez das cidades, apenas um abismo enorme tendo ao fundo dois lindíssimos lagos.

Lenda da Rapariga das Laranja

A Rapariga das Laranjas era uma jovem que vivia perdida na solidão, no temor e nos sonhos. No seu imaginário passava os dias à espera de um dia reencontrar o seu querido príncipe encantado, que as adversidades da vida um dia levara para longe de si.
Dada a sua tristeza, e segundo a lenda, os deuses compadeceram-se dela e levaram-na a que fosse consultar um oráculo no sentido de proceder à procura de conselho e ajuda. Levada pelas intenções divinas ela assim fez e durante a sua consulta ao oráculo a sibila, com a sua sapiência, ternura e simpatia, arrancou-a ao seu marasmo e levo-a para outro lugar, para o sitio mais bonito e luminoso, onde a Menina das Laranjas poderia ser de novo erguida como do nada fosse, com o nascer de uma obra de arte.
Depois de ter saído do marasmo em que se encontrava, a Rapariga das Laranjas percebeu que nenhuma das portas que a assombravam, que a rodeavam e que julgara fechadas para sempre, tinham qualquer fechadura. As portas abriam-se simplesmente à sua aproximação.
Pôs-se a deambular pelos caminhos que se encontravam por detrás das portas, até que ao chegar-se a uma dessas portas encontrou caída no chão, uma bela laranja que se encontrava coberta de ouro. Admirada juntou a laranja para não mais a largar, de tal modo ficou maravilhada com o fruto. Desse esse dia para a frente, a Rapariga das Laranjas nunca mais parou de procurar o laranjal mencionado pela sibila durante a consulta ao oráculo que e lhe revelara existir um esplêndido laranjal, local de onde teria vindo a laranja que encontrar.
Ainda segundo a lenda Rapariga das Laranjas deu inicio a um longo caminho na tentativa de encontrar o laranjal, que era tido por ser o mais sublime e paradisíaco lugar que alguma vez sequer imaginar ou sonhar encontrar. Quando finalmente o encontrou sentiu-se livre e segura, da laranja de ouro que sempre conservara na mão imanou uma luz que lhe permitiu ver a presença subtil do seu amado príncipe que há muito se ausentara. Pode de novo e finalmente voltar a acreditar no amor.

O Senhor Jesus de Ponta Delgada

A origem da construção da igreja do Senhor Jesus da Ponta Delgada tem origem num milagre que aconteceu há muitos, muitos anos, quando esta cidade era apenas ainda uma pequena povoação que pertencia a Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Andava uma mulher a apanhar lapas nas rochas junto ao mar quando viu de repente um crucifixo com uma imagem de Cristo em tamanho natural a boiar nas águas. Como o acesso à imagem não era fácil, decidiu voltar à povoação, onde avisou o padre do que tinha visto. Impressionado, o sacerdote acompanhou a mulher à praia e verificou com os seus próprios olhos a veracidade do sucedido. O padre entrou dentro do mar e retirou a imagem que foi levada em procissão pela população, que, entretanto se tinha juntado na praia, até à capela de Ponta Delgada. No dia seguinte, perante o espanto geral, o crucifixo foi encontrado enterrado a prumo na areia da praia, perto do local onde tinha sido achado. A população tornou a levá-lo em procissão para a capela, mas apenas horas mais tarde aparecia de novo na praia e, desta vez, o crucifixo estava rodeado de canas como que a delimitar a área de um templo. Respeitando a vontade de Cristo, os habitantes nunca mais retiraram a imagem e iniciaram ali mesmo a construção de uma igreja que se veio a tornar na paróquia de Ponta Delgada. Foi construído um muro para proteger o templo da fúria das águas do mar, mas, diz a lenda, embora as águas ultrapassassem o muro e chegassem ao adro, nunca se atreveram a entrar dentro da igreja.

Lenda de Santo Amaro

A estatueta de Santo Amaro foi encontrada no rolo além da Baixa Rasa, proveniente talvez de um naufrágio. Sabe-se que o facto ocorreu há mais de trezentos anos. O rolo passou a chamar-se Rolo de Santo Amaro, assim como todas as terras circundantes.O Santo foi trazido para a Igreja Paroquial, e por mais tentativas que o povo fizesse, a imagem amanhecia todos os dias no lugar onde fora encontrada. Santo Amaro fugia de todo e qualquer lugar onde o colocassem ou fechassem, preferindo sempre regressar ao lugar onde fora descoberto.Perante o sobrenatural, o povo curvou-se à vontade de Santo Amaro e edificou uma capela nesse lugar, apelidando-o de Santo Amaro. Vive ainda quem se lembre do aparecimento de uma fonte cujo a água permitiu a produção de barro, para a construção da dita capela. Deram-lhe o nome de Fonte de Santo Amaro. O povo continua anualmente a celebrar, no primeiro domingo de Setembro, o antigo talento de evasão protagonizado pela estátua de Santo Amaro.

Lenda do Vai-te com o Diabo

Era uma vez uma mulher de Guadalupe, na Graciosa, que ía casar uma filha em poucos dias. Estavam a fazer as cozeduras e, com todos os preparativos, a mulher já tinha gasto muito do pouco que tinha. É que para casar uma filha são gastos e mais gastos.Numa certa altura, a mulher já estava farta de puxar pela carteira e, arrenegada, virou-se para a filha e disse:- Vai-te com o diabo, rapariga, que me levas tudo o que tenho!Ninguém prestou atenção a estas palavras, mas passado pouco tempo , quando foram pela rapariga, não a encontraram em casa nem na vizinhança. Toda a gente ficou muito aflita, principalmente os pais e o noivo. Começaram então a procurar em lugares mais distantes, até que, sem saber mais onde procurar, foram para a serra e chegaram junto de um algar a que chamam de Caldeirinha. Desceram o mais depressa que puderam a vereda perigosa que conduz até à entrada de forma arredondada que conduz não se sabe onde? Ainda mais surpresas e aflitos ficaram, quando viram ali as galochas da rapariga e acreditaram que ela estava dentro da Caldeirinha.Foram buscar cordas muito fortes, ataram-nas umas às outras e o noivo amarrou-se. Cheio de medo por não saber o que ía encontrar lá dentro, foi descido pelo buraco escuro e medonho. No fundo encontrou a infeliz rapariga, tremendo de medo e aparvalhada. Amarrou-a também com as cordas e lá subiram os dois.O pior estava passado! Mas quando questionaram a rapariga como tinha ído ali parar, ela não sabia ao certo. Então a mãe lembrou-se da blasfémia que tinha dito, tendo-a entregue ao diabo. Ele, que anda sempre à procura de almas, levara-a logo para o lugar onde se costumava esconder, a Caldeirinha.

Lenda do Senhor Santo Cristo

Naquele tempo antigo, havia umas freiras viviam no Convento da Caloura e que se sentiam muito tristes, porque o povo de Água de Pau andava muito afastado da fé e do temor a Deus. As religiosas rezavam fervorozamente para que aquela população voltasse a ter fé e amor ao Senhor.Tinham esperança que se houvesse uma imagem nova no Convento, talvez a atitude dos paroquianos se alterasse e despertassem de novo para a fé.Escreveram uma carta a sua Santidade o Papa, pedindo-lhe a imagem que tanto queriam, mas que não tinham dinheiro para comprar. O pedido das religiosas não foi atendido, porque na altura não podia ser.As freiras ficaram muito tristes, porém, não desesperaram e continuaram a rezar com fé.Estava-se numa época de pirataria nos mares dos Açores e aconteceu que, passando um navio ao largo da ilha, foi atacado e totalmente destruído por corsários.Muitos destroços do navio vieram dar à costa e, um certo dia, depois das freiras tratarem do jardim, foram descansar a olhar para o mar. Viram, na água, uma caixa perto da costa que parecia ter uma luz lá dentro. Desceram a rampa a correr, puxaram o caixote, abriram-no e viram que era um lindo busto de Cristo, de olhar vivo, expressão humilde e serena.Acharam que tinha sido um milagre porque Santo Cristo tinha escolhido aportar à ilha de São Miguel, cujo povo costumava ser muito crente. Quando o povo de Água de Pau tomou conhecimento do acontecimento, ficou muito feliz.A fé dos habitantes da Vila cresceu, a fama dos milagres de Santo Cristo espalhou-se por toda a ilha. Desde então Santo Cristo passou a ser a esperança e o apoio de todos os micaelenses.Durante anos, Santo Cristo foi venerado no Convento da Caloura, mas as freiras, que sofriam constantemente os ataques dos piratas, fugiram e foram refugiar-se em Ponta Delgada, no Convento da Esperança, levando consigo a imagem , onde ainda hoje se encontra.Nos nossos dias a fé no Senhor Santo Cristo não se perdeu, está cada vez mais viva, como se pode ver nas festividades e principalmente na linda procissão que se faz em sua honra, no quarto domingo de Maio.

Lenda da Urzelina

Na crista da enorme cordilheira, que atravessa a ilha de São Jorge de ponta a ponta, erguia-se, há muitos, muitos anos atrás, o majestoso castelo do príncipe Romualdo. A sua corte faustosa entregava-se a orgias, banquetes e outras diversões, que causavam espanto na população trabalhadora. Uma madrugada, a trombeta real ecoou através das montanhas, anunciando a grande caçada que iria começar ao toque das Avé-Marias. Em frente ao palácio foram estacionando as seges, os cavalos, muitos criados de libré, carregados com os apetrechos destinados à caça. Os pobres e maltratados trabalhadores do campo já tinham começado mais um dia de trabalho duro, quando o segundo toque de trombeta soou e a comitiva do príncipe partiu a grande velocidade, rindo de alegria ao galgar os montes. Os torcazes voavam espavoridos pela gritaria, e Lina, amada do príncipe, serpenteando com o cavalo por entre as urzes e rochedos em perseguição de alguns pombos que lhe fugiam, acabou por se afastar da comitiva. Quando deram pela sua falta, esqueceram a caça e procuraram Lina por todo o lado, mas não a encontraram. Voltaram ao palácio, a alegria dera lugar ao desânimo e tristeza. O príncipe mandou encerrar todas as portas, as festas e diversões e, durante as noites e dias seguintes, a sua voz soluçante gritava: "Lina! Lina!", enquanto corria como louco esfarrapado e desgrenhado por precipícios e ravinas à procura da amada. Uma noite, quando voltava ao castelo, Romualdo estacou com um quadro terrível. No fundo de uma ravina, um cavalo morto esmagava com todo o seu peso a querida Lina. O príncipe, correndo, desceu o precipício, beijou o cadáver em petrufacção e entre lágrimas cortou uma trança dos seus lindos cabelos louros. Apanhou um ramo de urze e aí enrolou a trança. Voltou ao castelo, desalentado, como morto. Nunca mais quiz saber de festejos e os cortesãos começaram a chamar áquela planta "Urze de Lina". Passado pouco tempo, o príncipe morreu de desgosto e, com o correr dos anos e o esquecimento da hipócrita corte que o adulava, a sepultura ficou completamente coberta de "Urze de Lina". Em homenagem à dor do príncipe que Deus duramente castigara, chamou-se "Urze de Lina" e mais tarde por aglutinação "Urzelina" à povoação à beira-mar, onde faziam eco as atrocidades praticadas no castelo e onde vivia o povo que sofria a tirania dos cortesãos. A corte aduladora e hipócrita, sem respeito pela morte do príncipe, redobrou as festas e a tirania ao povo, mas foi castigado. Deus, que vela pelos pobres, fez rebentar um vulcão nos alicerces do palácio, a lava soterrou toda a corte maldosa e destruíu tudo à volta, correndo até ao mar.

Lenda da Lagoa das Furnas

Há anos, no local em que hoje é a Lagoa das Furnas, havia uma aldeia onde as pessoas viviam felizes e se divertiam sem parar.Uma bela manhã, um jovem, quando foi buscar água à fonte para os arranjos domésticos e para dar aos animais, viu que a água era salgada. Este acontecimento estranho fez com que o moço adivinhasse que alguma coisa anormal iria acontecer com a população da sua terra. Aflito, correu a contar aos vizinhos o que vira e o que pensava, mas ninguém o acreditou.Passados dias, o rapaz voltou à fonte e ainda ficou mais espantado quando viu o peixe sair! Convenceu-se definitivamente de que iria acontecer qualquer coisa desagradável à sua pequena aldeia. A população não fez caso.O avô, homem já velho, disse às pessoas que parassem com os bailes e festas e que fosse um mais ligeiro ao alto de um pico a ver se no mar, para os lados do norte, estava uma ilha à vista.O povo pôs-se a rir e continuou com os festejos. Mas o velho subiu como pôde mais o neto ao alto do monte e de lá começou a chamar pelos outros e a dizer-lhes que fossem para a igreja porque estava à vista a ilha encantada das Sete Cidades, sinal de desgraça. Ninguém lhe ligou.Por esses dias, o dito rapaz teve de sair da aldeia para ir vender alguns animais na freguesia vizinha. Demorou algum tempo no seu negócio, mas voltou finalmente com a alegria de quem esteve longe e chega a casa. Quando se aproximava, começou a aperceber-se que tudo lhe parecia diferente. Finalmente chegou. Porém, no lugar onde deveria encontrar a sua terra, só estava uma grande lagoa de água tranquilas. Um cataclismo soterrara para sempre a povoação, mas lá em baixo a vida continuava. É por isso que hoje nesse lugar se percebe um cheiro intenso de pão cozido pelas pessoas que continuam a sua vida na povoação escondida pela bela Lagoa das Furnas.

Lenda da Fajã de São João

Em tempos que já lá vãouma pobre velha haviana Fajã de São Joãode quem o bom povo se ria.-*-Um dia a pobre velhinhaquando o seu pão faziauma formosa senhoraà sua porta batia.-*-- Entre! - lhe disse a velhinha- venha junto do meu lar,do pouco que Deus me deua todos gosto de dar.-*-Mas a senhora lhe dissecom voz doce de encantar:- Vai dizer a toda a genteque fuja deste lugar.-*-Que caso estranho e terrívelmuito em breve se ía darque fugissem para a serraantes da noite chegar.-*-E logo a velhinha foide casa em casa a chamar,dizendo a todos deixassema sua casa, o seu lar.-*-Muita gente zomboudo que a velhinha dizia,ninguém quiz acreditarem tão triste profecia.-*-Com uma pilha que tinhapôs-se a velha a caminharpara o mais alto da serrano triste caso a cismar.-*-Nessa noite, à meia-noitepôe-se a terra a baloiçarhouve um grande terramotouivava sinistro o mar.-*-E ruíram com fulgormuitas rochas sobre o marmuitas casas desabaram,vibraram gritos no mar.-*-Quando a manhã despontou,o sol pelo azul subia,muita gente que zombarana paz da morte dormia.-*-E a velhinha que disseraatrás esta profecia,diz o povo que falaracom a Virgem Santa Maria.

Lenda da Ermida de Nossa Senhora dos Milagres

Lá pelo século desesseis (XVI), num dia de mar manso, andavam uns homens nos calhaus do Porto da Casa a apanhar peixe ou a procurar restos de madeira trazidos pelo mar. Inesperadamente deram com um pequeno caixote à beira da água, muito bem feito e que despertou logo muita curiosidade.Abriram-no com cuidado e tiveram uma grande alegria quando encontraram dentro uma pequena imagem de Nossa Senhora do Rosário.A notícia correu pelo pequeno povoado e toda a gente se juntou para ver a Santinha. Alguém reparou que a imagem trazia um escrito que logo foi decifrado pelos poucos que sabiam ler. Dizia assim a inscrição: "No lugar onde eu sair, façam-me uma ermida".As pessoas ficaram muito animadas e, embora não tivessem muitas posses, decidiram que se haviam de juntar e construir una ermidinha no Alto da Rocha.Passado algum tempo, a notícia de que uma imagem da Senhora do Rosário tinha aparecido no Corvo espalhou-se pelos Açores e chegou a Lisboa. Daí veio alguém para levar a imagem. O povo do Corvo ficou revoltado por se quererem apossar do que era seu, mas não pode fazer nada.A imagem foi levada para qualquer templo em Lisboa. Aí uma coisa estranha começou a acontecer: Nossa Senhora amanhecia todos os dias com o manto molhado, como se tivesse feito uma grande viagem por mar. E assim era. A Santinha aproveitava a noite para vir visitar a pequena ilha do Corvo, onde queria estar. Os padres de lá começaram a ficar perturbados com o acontecimento inexplicável. Até que um disse: - Esta santa não se quer aqui. Ela, desde que cá chegou, o manto está sempre alagado. Isto é um sinal. Ela tem de ir para onde saíu.Alguns concordaram e outros não, mas, passado algum tempo, durante o qual o estranho acontecimento se continuava a dar, mandaram a imagem de volta para o Corvo.A alegria do povo foi grande quando recebeu a sua Santinha. Fizeram-lhe uma pequena ermida sobre a rocha, sobranceira ao Porto da Casa, onde ela tinha aparecido e queria ter a sua morada. Dali passou a proteger os corvinos e a fazer muitos milagres, pelo que a baptizaram com o nome de Nossa Senhora dos Milagres.

História do Baleeiro da Ilha do Pico

Aquele dia, em São João, amanhecia claro e à medida que o sol subia para os lados das Lajes, o verde das vinhas e do milho destacava-se por entre o negrume das pedras. Os homens já se dirigiam para as terras para sachar milho, apanhar batatas ou bater tremoço. As mulheres preparavam na cozinha o almoço de sopas de bolo, papas de milho ou batatas com peixe. De repente o sinal de baleia fez tudo mover-se a um ritmo mais acelerado. Os homens largaram o sacho ou o alvião no lugar em que estavam, abandunaram a burra presa pela corda do freio à parede e correram para o porto, enquanto as mulheres lhes preparavam e alcançavam a saca com a comida. Arriaram os botes e foram pelo mar fora, até que desapareceram no horizonte. Depois de navegarem à vela algum tempo, avistaram a baleia. Era um "espamarcete" pra cima de cem barris de óleo. Gerou-se grande reboliço nos botes. É que uma baleia daquelas dava uma ânsia muito grande: não era só o dinheiro que ela representava, mas também o prazer de uma grande batalha vencida. Tiraram a vela e puseram-se a padejar. A baleia voltou a mergulhar para aparecer mais fora. No bote que conseguiu pôr-se em posição primeiro, o trancador, curvando o corpo e fixando o olhar, atirou o arpão certeiro. A alegria e a confusão foi geral. Mas a baleia, ferida e doida de dor, levou a primeira celha de linha, lecou a segunda e, antes da ponta da linha sair da celha, o trancador, que era um latagão forte, agarrou-a a amarrou-a ao tronco. Láfoi amarrado à linha pelo mar fora enquanto os demais baleeiros ficaram sepultados num silêncio de morte. Só o oficial dizia: "Não! Não!" Não havia ainda gasolinas, havia mais 3 ou 4 botes por perto, passou-se palavra e toda a tarde procuraram com tristeza o "cadáver". Até os outros deixarem de balear. Não podendo fazer nada, voltaram ao entardecer paraterra. A chegada ao cais não teve a alegria do costume e as discussões sempre tão fortes entre os baleeiros não se ouviram. A família vestiu-se de luto e toda a santa noite as vizinhas choraram e carpiram de dor enquanto os homens contavam em voz baixa e dolente casos que tinham vivido com aquele forte homem. No outro dia saíram alguns botes à procura, por descargo de consciência, do corpo do trancador para que lhe dessem enterro digno. Depois de muito andarem, começaram a avistar, ao longe, um negrume no mar e foram para lá. Sobre a grande baleia, já morta, estava o baleeiro, de pé, encostado ao cabo do arpão fincado no toucinho do animal.Como se nada tivesse acontecido disse: "Agora é que vocês chegam? Tenho tado aqui toda a noite à espera!" e fumava um grosso cigarro, embrulhado em casca de milho, como se estivesse sentado à mesa.

Lenda da Coroa Real de Cedros

No tempo do domínio castelhano e mesmo já anteriormente, os Açores eram, de certa maneira, esquecidos e os piratas aproveitavam para, à sucapa e a coberto da noite, atacar e roubar as ilhas, principalmente as mais desprotegidas.Duma vez, um grupo de piratas, comandados pelo seu rei mouro, atacou a ilha do Faial. Mas os faialenses deram-lhe luta e conseguiram vencer e fazer com que os piratas abandonassem a ilha sem fazerem as pilhagens habituais. Ao fugir, o rei esqueceu a coroa. Era magnífica, em prata, enfeitada ao redor com ramos lavrados.Já em viagem o rei mouro deu por falta da coroa e lembrou-se que a tinha deixado na ilha que tinham saqueado. O barco rumou novamente em direcção ao Faial em busca da preciosa coroa.Disfarçadamente, os piratas procuraram por onde puderam, indagaram junto de algumas pessoas, mas nada encontraram e o rei mouro partiu em direcção às distantes terras dos infiéis, abandonando a ilha para nunca mais voltar.Ora uma mulher dos Cedros, que tinha encontrado e guardado a coroa, ao saber que os piratas estavam de volta à procura do símbolo real, tratou de escondê-la o melhor possível. Não vendo sítio mais seguro e, como era uma coroa aberta, sem hastes, do feitio de um anel, emfiou-a numa perna como quem enfia uma aliança e aí a conservou até ter a certeza que o rei se fizera ao mar, desistindo para sempre do precioso objecto. Passado algum tempo a perna da mulher inchou e, quando quiseram tirar a coroa ela não saía. Puxaram de um lado, puxaram do outro, lavaram a perna com água e sabão de cinza para a pele ficar mais escorregadia, mas a coroa não saíu. Não vendo outro jeito, não tiveram remédio senão cortar a coroa para a poderem tirar. Depois soldaram-na com muito cuidado e o riquíssimo objecto ficou para a freguesia e passou a ser usado nas festas do Espírito Santo. Tinha de altura 13cm e continha engastada uma gema de cor da qual seignora o verdadeiro valor.Passados anos, com medo que aquela coroa tão rica desaparecesse ou se estragasse, mandou-se fazer uma imitação para ser usada nas festas, mas a antiga coroa do rei mouro continua a ser guardada todos os anos em casa do mordomo do Espírito Santo e pode ainda ver-se, perfeitamente, num dos lados, o lugar onde foi cortada e soldada para poder sair da perna da mulher que a tinha guardado cautelosamente.

História das Sete Caldeiras da Ilha das Flores

Havia um homem da ilha das Flores que tinha um filho de nome João. O rapaz era muito sonhador, simples e bom, como tinha fama de ser toda a gente das Flores. Um certo dia o João ía pelo caminho fora, carregado com bilhas de água.Tinha-a ído buscar longe para ser usada em casa. Ía sozinho e a sonhar, um pé na terra e o outro na lua, como é natural em todos os rapazes e crianças da sua idade. Encontrou, a certa altura, uma poça de água no caminho e disse em voz alta, para si mesmo: - Dizem que noutros lugares há lagoas e caldeiras muito lindas. Aqui na minha ilha não há. Vou mas é fazê-las! Pegou numa das bilhas de barro que trazia cheias de água e despejou-a no chão. Com a facilidade com que tinha sonhado em fazer as lagoas, logo se formou a primeira caldeira. O rapaz deu pulos de alegria e pensou: "Sempre que encontrar poças de água, vou fazer o mesmo!" Ali à esquerda estava outra poça mais funda e o rapaz, com confiança, vazou outra bilha de ágia. Formou-se outra vez uma lagoa, muito, muito funda. Teve que ir de novo encher as bilhas. Levado pelo sonho, foi andando, andando, pela ilha, tendo encontrado ao todo sete poças de água, onde foi deitando água. Assim se foram formando as Caldeira Funda das Lajes, onde poderia flutuar um grande paquete. Há outras mais baixas, como a Caldeira Rasa, cujas margens são muito lodosas e perigosas. As restantes lagoas que o rapaz foi formando ao encontrar as poças de água são a Caldeira Branca, a Seca, a Comprida, a Funda e a Lomba. Tornaram-se todas muito diferentes, mas muito bonitas, de águas limpas e transparentes, como foi desejo do rapaz que as sonhou e as fez.

História da Porca que furou o Pico

Há muitos anos, na freguesia de Água de Pau, vivia, na Rua da Boavista, um casal com uma filha única, já grandinha. O homem da casa era um honrado camponês de poucas posses. Para arranjo da vida costumava ter uma porca de criação, um regalo de animal, mansa e boa amamentadeira dos marrõezinhos, que paria duas vezes por ano. Era um animal muito estimado por ser muito pachorrenta e também porque, com a venda dos leitões, a família fazia dinheiro para pagar a dívida da mercearia e outras pequenas contas em atraso.Logo de manhã, a primeira coisa que o dono fazia era ir ao pé do pátio da porca ver como estava, coçá-la, dar-lhe umas palmadas no lombo em sinal de carinho. Por vezes levava-lhe uma tigela de milho em grão.Aconteceu, certo dia, que ao aproximar-se do curral, não viu a porca lá dentro. Correu a avisar a mulher e começaram a lamentar-se . O burburinho foi grande e logo apareceram alguns vizinhos, que se decidiram a ir procurar o animal desaparecido.Correram ruas e canadas dos arredores. Bateram palmo a palmo a freguesia, mas nada encontraram. Foram depois para mais longe e a filha da casa, vendo os pais aflitos, também se pôs a procurar. Tanto que ela gostava dos marrõezinhos que a porca levou consigo!Lembrou-se de subir o Pico e qual não foi o seu espanto, quando ao olhar para o caldeirão que ficava na cratera, viu lá em baixo a porca deitada e rodeada pelos marrõezinhos. Radiante de felicidade e não sabendo como tinha a porca ído ali parar, a rapariguinha gritou: - "A porca furou o Pico! A porca furou o Pico!"Trouxeram o animal para o pátio e tudo voltou à normalidade. Mas a frase pronunciada ingenuamente pela menina nunca mais foi esquecida e, ainda hoje, as pessoas que ali passam de carro ou camioneta, principalmente excursionistas, perguntam ironicamente : "Foi aqui que a porca furou o Pico?". Os habitantes da ex-vila, sentindo-se apelidados de ingénuos ou parvalhões, reagem , soltando pragas e fazendo gestos de revolta e fúria.

A Bela Eufémia

Eufémia era uma das quinze filhas do rei Atlas e neta do Deus Júpiter. Como jovem muito boa e de beleza invulgar inspirou os mais afamados estatuários do seu tempo e enamorou os dez filhos do rei Neptuno.
Eufémia, possuindo uma grande elevação de espírito, desprezou a condição terrena que lhe ofereciam e preferiu tornar-se uma estrela da constelação das “Myades”, suas irmãs. Mesmo assim continuou a apreciar o bem e a doutrina pregada por Jesus foi-lhe transmitida por um Querubim, que lhe pôs na alma o desejo de voltar à terra para espalhar a paz e a harmonia.
O desejo de Eufémia acabou por realizar-se e veio habitar na ilha das Sete Cidades, onde foi tomada e amada como filha de um riquíssimo príncipe, mantendo-se jovem, bela e bondosa.
A presença benfazeja de Eufémia fez-se sentir logo que chegou à terra. Nos banquetes os convivas eram deliciados com música de cítaras e flautas e comiam-se as mais divinas iguarias. A partir de então o sofrimento e a miséria desapareceram dessa ilha de encanto e passou a dominar a alegria e a paz.
Num dia calmo de Outono, no dia de S. Cosme, famoso médico árabe e patrono dos médicos, Eufémia apareceu metamorfoseada numa planta. Dessa planta, que abunda nos matos da freguesia das Sete Cidades, se prepara um chá que é bálsamo para todas as dores e que tem o condão de defender as pessoas de todos os infortúnios.
Já passaram quase dois mil anos desde que Eufémia se estabeleceu na terra, mas ainda continua espalhando o bem e é por isso que a paz impera nas Sete Cidades, em S. Miguel, e quem aí vai não pode deixar de se sentir inebriado pela tranquilidade do ambiente paradisíaco.

A Princesa e o Pastor

Em época recuada, existia, no lugar onde hoje fica a freguesia das Sete Cidades, um reino próspero e aí vivia uma princesa muito jovem, bela e bondosa, que crescia cada dia em tamanho, gentileza e formosura. A princesa adorava a vida campestre e frequentemente passeava pelos campos, deliciando-se com o murmurar das ribeiras ou com a beleza verdejante dos montes e vales.
Um dia, a princesa de lindos olhos azuis, durante o seu passeio, foi dar a um prado viçoso onde pastava um rebanho. À sombra da ramagem de uma árvore deparou com o pastor de olhos verdes. Falaram dos animais e de outras coisas simples, mas belas e ficaram logo apaixonados.
Nos dias e semanas seguintes encontraram-se sempre no mesmo local, à sombra da velha árvore e o amor foi crescendo de tal forma que trocaram juras de amor eterno.
Porém, a notícia dos encontros entre a princesa e o pastor chegou ao conhecimento do rei, que desejava ver a filha casada com um dos príncipes dos reinos vizinhos e logo a proibiu de voltar a ver o pastor.
A princesa, sabendo que a palavra do rei não volta atrás, acatou a decisão, mas pediu que lhe permitisse mais um encontro com o pastor do vale. O rei acedeu ao pedido.
Encontraram-se pela última vez sob a sombra da velha árvore e falaram longamente do seu amor e da sua separação. Enquanto falavam, choravam e tanto choraram que as lágrimas dos olhos azuis da princesa foram caindo no chão e formaram uma lagoa azul. As lágrimas caídas dos olhos do pastor eram tantas e tão sentidas que formaram uma mansa lagoa de águas verdes, tão verdes como os seus olhos.
Separaram-se, mas as duas lagoas formadas por lágrimas, ficaram para sempre unidas e são chamadas de Lagoas das Sete Cidades. Uma é a Lagoa Azul, a outra é a Lagoa Verde e em dias de sol as suas cores são mais intensas e reflectem o olhar brilhante da princesa e do pastor enamorados.

O Rei Branco Pardo e a Lagoa das Sete Cidades

Há muitos, muitos anos atrás, havia um reino tão grande e florescente que o seu soberano, Brancopardo, não sabia ao certo o número dos seus vassalos, dos castelos, cidades e aldeias. Era a Atlântida. Apesar desta riqueza, o rei e a rainha Branca Rosa, que tinham sido muito felizes em tempos passados, viviam então muito tristes por não terem filhos. Brancopardo tornava-se cada dia mais vingativo e tratava muito mal os seus vassalos.
Uma noite em que o rei vagueava pelos jardins do palácio com a rainha teve uma visão que lhe falou assim:
- Rei da Atlântida, venho trazer-te a alegria. Em breve serás pai de uma filha linda e virtuosa, mas para que tenha fim a tua maldade, é preciso que nem tu nem homem nenhum se aproxime da princesa. Viverá dentro dos muros de sete maravilhosas cidades que eu erguerei no mais lindo recanto do teu reino e só donzelas a servirão. Presta atenção! Se antes dos vinte anos ousares transpor as muralhas das sete cidades, serás morto e um cataclismo arrasará o teu reino.
O rei, cheio de alegria, prometeu fazer tudo o que o anjo dissera e, passados nove meses, nasceu uma linda princesinha. Sem sequer a ter visto, o rei enviou-a para as Sete Cidades, cumprindo a exigência da visão. Os anos começaram a arrastar-se lentos e dolorosos para os pais separados da filha querida. A princesa Verde-Azul, rindo e cantando pelos jardins da cidade, rodeada de um cortejo de virgens, ia crescendo formosa e boa.
Branco Pardo consumia-se de saudades, tornava-se cada vez mais colérico e a ansiedade de ver a filha chegou ao ponto de não lhe caber no peito. Mandou aprontar um exército com os seus mais valorosos guerreiros e pôs-se a caminho para as Sete Cidades.
A viagem foi longa e, à medida que se aproximavam, o céu ia enegrecendo e ruídos estranhos iam saindo da terra. Mas o rei caminhava sempre, desvairado, até que surgiram, na escuridão trágica do dia, os muros das Sete Cidades.
Branco Pardo, sombrio e perturbado, levantou a espada e com ela bateu pesadamente numa das portas. No momento em que o portão principal se abria, uma espécie de trovão roncou, um fogo intenso elevou-se da terra fendida e os muros abateram-se imediatamente sobre o rei, os seus vassalos e todas as virgens que viviam nas Sete Cidades. Um tremendo cataclismo vulcânico destruiu toda a Atlântica. Por fim veio o silêncio, o sol brilhou outra vez e no mar viam-se nove pequenas ilhas. As Sete Cidades, onde a princesa vivia, transformaram-se numa cratera coberta por duas calmas lagoas: uma é verde porque no fundo ficaram os sapatinhos verdes da princesa; a outra é azul e reflecte a cor do chapeuzinho que a princesa usava no seu passeio, quando foi morta pelo mau tino do pai, o rei da Atlântida.

A Lenda da Atlântida

Conta-se que houve em tempos um continente imenso no meio do oceano Atlântico chamado Atlântida. Era um lugar magnífico: tinha belíssimas paisagens, clima suave, grandes bosques, árvores gigantescas, planícies muito férteis, que às vezes até davam duas ou mais colheitas por ano, e animais mansos, cheios de saúde e força. Os seus habitantes eram os Atlantes, que tinham uma enorme civilização, mesmo quase perfeita e muito rica: os palácios e templos eram todos cobertos com ouro e outros metais preciosos como o marfim, a prata e o estanho. Havia jardins, ginásios, estádios... todos eles ricamente decorados, e ainda portos de grandes dimensões e muito concorridos.
As suas jóias eram feitas com um metal mais valioso que o ouro e que só eles conheciam __ o oricalco. Houve uma época em que o rei da Atlântida dominou várias ilhas em redor, uma boa parte da Europa e parte do Norte de África. Só não conquistou mais porque foi derrotado pelos gregos de Atenas.
Os deuses, vendo tanta riqueza e beleza, ficaram cheios de inveja e, por isso, desencadearam um terramoto tão violento que afundou o continente numa só noite. Mas parecia que esta terra era mesmo mágica, pois ela não se afundou por completo: os cumes das montanhas mais altas ficaram à tona da água formando nove ilhas, tão belas quanto a terra submersa __ o arquipélago dos Açores.
Alguns Atlantes sobreviveram à catástrofe fugindo a tempo e foram para todas as direcções, deixando descendentes pelos quatro cantos do mundo. São todos muito belos e inteligentes e, embora ignorem a sua origem, sentem um desejo inexplicável de voltar à sua pátria.
Há quem diga que antes da Atlântida ir ao fundo, tinham descoberto o segredo da juventude eterna, mas depois do cataclismo, os que sobreviveram esqueceram-se ou não o sabiam, e esse conhecimento ficou lá bem no fundo do mar.

A Lenda dos Nove Irmãos

A meio do oceano havia um país lindo com árvores a cobrir grandes montanhas. Algumas destas eram tão grandes que pareciam chegar ao céu. Ora nesse país havia um rei que tinha nove filhos muito amigos, e um dia chamou-os e pediu-lhes que lhe dissessem que sítio preferiam, pois ele queria dar uma propriedade a cada um. Todos escolheram montanhas, mas como se entendiam bem, não houve discussões e cada um foi para um dos nove cumes montanhosos do país, tendo marcado encontro para daí a um ano.
Na véspera desse dia eles andavam tão excitados que mal conseguiram dormir. De noite ouviram um grande ruído, e viram com terror que o continente se tinha afundado, ficando à tona de água apenas os nove cumes. Agora a única maneira de comunicarem era de barco, de maneira que deitaram mãos ao trabalho.
Pouco tempo depois estavam todos a abraçar-se, pois aprenderam a viajar pelo mar, já que agora viviam cada um numa ilha, as ilhas dos Açores.