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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Lenda da Ilha das Sete Cidades

Reza a lenda que quando os árabes Tárique ibn Ziyad e Musa ibn Nusair vieram do Norte de África para levar a cabo a invasão muçulmana da Península Ibérica, sete bispos cristãos que viviam no norte peninsular, algures pelos arredores de Portucale, tiveram de fugir à horda invasora. Partiram para o mar em busca da lendária e remota ilha Antília, ou Ilha das Sete Cidades, que segundo uma lenda já antiga nesses tempos, existia algures no Grande Mar Oceano Ocidental.
Dessa partida mais ou menos precipitada ficou o registo na linguagem popular, ao ponto de séculos mais tarde, já depois da Reconquista cristã, os reis de Portugal terem manifestado o desejo de alcançar essa ilha perdida no mar. Dizia-se que para os lados do Oriente ficava o reino do Preste João, e para o Ocidente, no Grande Mar Ocidental ficava a ilha de Antília ou Ilha das Sete Cidades.
Do medieval reino de Portugal partiu um dia uma caravela denominada "Nossa Senhora da Penha de França" (nome actualmente vulgar em vários locais e em varias ilhas dos Açores) com o objectivo de um dia encontrar essa lendária ilha perdida e para muitos encantada.
A caravela navegou para Ocidente durante muito tempo, passou por grandes ondas e peixes gigantes, calmarias e tempestades. E foi depois de uma dessas tempestades, depois do desanuviar dos nevoeiros de São João, que se lhes deparou uma ilha no horizonte. Rapidamente rumaram para a nova terra avistada e pouco depois aportaram numa terra maravilhosa, coberta de verdes sem fim e de azuis celestiais.
A caravela esteve fundeada por três dias, os marinheiros desembarcaram e com eles três frades que procuraram estabelecer relações com o monarca da ilha. Visitaram palácios, florestas, rios e lagos, e estudaram os costumes dos locais. Escutaram e aprenderam a linguagem dos habitantes, por sinal muito parecida com a que se falava no Portugal de então.
No final dos três dias de estadia em terra, os três frades e todos os marinheiros voltaram para a caravela com o objectivo de voltar ao reino de Portugal a contar ao rei a nova descoberta. No entanto, mal se começaram a afastar da costa a ilha foi repentinamente envolta por brumas, e como que por encanto desapareceu no mar.
Depois de narrados os acontecimentos ao rei português, este mandou uma embaixada para estabelecer relações com a nova ilha e não a encontraram. Foram feitas muitas buscas durante muitos séculos, até que um dia como que por encanto a ilha se deparou novamente às caravelas portuguesas. Estranhamente, encontrava-se desabitada, pelo que foi ocupada pelos portugueses, que deram à caldeira central do seu vulcão mais emblemático o nome da terra lendária de Sete Cidades.
Ainda hoje, por vezes, a caldeira e o seu gigantesco vulcão vivem no mundo das nuvens. Quem chega ao Miradouro da Vista do Rei, num dos rebordos da caldeira, tem uma visão deslumbrante do Vale das Sete Cidades, que por vezes aparece e desaparece nas nuvens e nevoeiros. É uma região onde as nuvens pairam, entre o céu e a terra. A luz por vezes parece difusa envolta numa névoa de estranho mistério.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Lenda da Donzela Encantada da Ilha de Santa Maria

A história passa-se no lugar de Valverde, junto a uma caudalosa ribeira onde em tempos idos as mulheres do campo costumavam ir lavar as roupas. Uma lavadeira, que estava com muito serviço, ficou sozinha fora de horas a lavar roupas até quase ao crepúsculo. Conforme iam terminando o seu serviço, as outras mulheres tinham ido embora sem que ela se apercebesse.
Concentrada no trabalho, a lavadeira cantarolava algumas melodias, e o som da água a correr não a deixou ouvir ao principio os murmúrios de uma voz de mulher que se lastimava a um canto da ribeira. Durante um intervalo para descansar, a lavadeira apercebeu que uma mulher gemia e chorava baixinho, pedindo socorro. Aproximou-se do lugar e viu uma moça muito formosa, parecida com um anjo e vestida de um branco translúcido, meia oculta nas hortênsias.
A lavadeira perguntou à por que parecia tão infeliz, ao que esta terá respondido que se encontrava encantada por uma fada má. Só lhe era permitido aparecer naquele local de sete em sete anos, por alturas do pôr-do-sol, na esperança de encontrar um jovem que a quisesse namorar. No entanto, só depois de quebrado o encanto é que lhe podia dizer quem era. Pouco depois de dizer isto, desapareceu nas sombras e nos ruídos silêncios da água corrente.
Quando a lavadeira contou este acontecimento na sua aldeia, muitos não acreditaram nela, outros acreditaram. Sete anos depois, foram vários os rapazes de Valverede, que ao pôr-do-sol foram sentar-se nas margens da ribeira, na esperança de ver a moça encantada. No entanto, ela nunca mais apareceu.

Lenda dos Diabretes na Fajã de Vasco Martins

Segundo a crença popular, os diabretes, uma espécie de duendes, saíam de certas zonas da costa para apoquentar a vida das pessoas com quem se cruzavam. Normalmente surgiam nas localidades em certas noites do ano, mas com mais frequência na noite da 2.ª feira de Carnaval para 3ª-feira de Entrudo. Assustavam as pessoas e os animais, revolviam as culturas nas terras. Com medo, as pessoas muitas vezes apenas se fechavam em casa. Aqueles que podiam, fugiam das costas marítimas, onde eles apareciam em maior número.
Na Fajã de Vasco Martins, pertencente aos habitantes da localidade do Toledo, existia um grupo de homens que se julgavam mais corajosos que os restantes e um dia resolveram que haviam de enfrentar os Diabretes. No dia 2 de Fevereiro, prepararam uma pescaria e foram para a casa de um deles na referida fajã, armados de paus endurecidos no fogo, foicinhos e outras armas artesanais.
À meia noite nada de anormal tinha acontecido. Confiantes de que os diabretes tinham tido medo deles, pararam a pescaria e foram para a casa da fajã de um deles, onde se sentaram a conversar e a rir, a assar peixe e beber vinho de cheiro produzido na fajã.
Perto da madrugada começaram a ouvir barulhos ao longe, que lhes parecia o sussurrar do vento nas árvores, mas rapidamente aumentou e parecia o bramir do mar em dia de tempestade. Até que o crescente barulho deixou de ser explicável, parecendo uma mistura de vários e diferentes sons que pareciam vir de todos os lados.
A barulheira vinha do telhado, onde as telhas pareciam estar a partir-se outras a serem arrastadas. Começaram pancadas fortes nas portas e janelas. Parecia que a casa abanava toda com o barulho. Os homens começaram a tremer e nem se arriscaram a abrir a porta ou a espreitar pelas janelas.
Ficaram todo o resto da noite aconchegados num canto da casa, e só ao raiar da madrugada é que o barulho foi parando aos poucos, até desaparecer. Pensando não tinham uma única telha no lugar e as terras todas reviradas, saíram de casa mas parecia que nada se tinha passado. As telhas estavam nos seus lugares, as plantas nos campos não tinham sido mexidas, tudo estava normal.

Lenda da Descoberta da Ilha de Santa Maria

A lenda passa-se à época do Infante D. Henrique, fundador da mítica Escola Náutica de Sagres. De acordo com ela, Gonçalo Velho Cabral, marinheiro do Infante, frade devoto da "Nossa Senhora", por ordem daquele fez-se ao mar numa caravela, fazendo uma promessa à Virgem de dar o nome dela à primeira terra que encontrasse no "mar Oceano".
As viagens marítimas dos descobrimentos eram geralmente difíceis, demoradas e imprevisíveis. Os marinheiros dependiam do vigia, no alto cesto da gávea quase na ponta de um mastro, para olhar o horizonte, desde o raiar da madrugada até ao anoitecer e tentar descobrir terra.
Gonçalo Velho esquadrinhava os mapas, anotava as correntes e rezava. Passaram-se calmarias e tempestades, noites e dias, meses... Foi então que num dia de Verão, no dia de Nossa Senhora em Agosto, amanheceu um dia claro, suave, de céu limpo. A vista alcançava grandes distâncias.
Na linha do horizonte foi surgindo uma nuvem, que foi se agigantando, ganhando forma e nitidez. A dada altura o gajeiro já não tinha mais dúvidas e gritou: "Terra à vista!". Gonçalo Velho Cabral e a restante marinhagem começavam o dia, como era hábito nessas alturas, com orações a Deus e a Nossa Senhora para que os ajudasse a encontrar terras novas. Estavam a rezar a "Ave Maria", e nesse preciso momento pronunciavam "Santa Maria".
Gonçalo Velho considerou que se tratava de um milagre de Nossa Senhora a lembrar-lhe a promessa que tinha feito. Esta era a primeira ilha descoberta nos Açores, a "ilha mãe", que recebeu de imediato o nome de ilha de Santa Maria.
Segundo a lenda, esta fé de Gonçalo Velho perpetuou-se no local, onde ainda se mantém grande devoção em Nossa Senhora, festejada efusivamente no mês de Agosto de cada ano.

sábado, 26 de outubro de 2013

Lenda do Cavaleiro da Ilha do Corvo

A lenda iniciou-se após 1452, quando os primeiros navegadores que navegavam para Ocidente a partir de Portugal continental avistaram aquela que veio a ser chamada de Ilha do Corvo. Afirma que, ao aproximarem-se da nova terra avistada, os navegadores viram sobre a parte mais alta de um monte uma estátua equestre.
O alazão apoiado nas patas traseiras, com as patas dianteiras levantadas no ar a apontar para o noroeste, apontava para a frente, para mostrar o caminho do Novo Mundo. O cavaleiro empunhava uma espada num braço erguido. Ambos tinham sido esculpidos no basalto negro vulcânico, pedra mãe do substrato da ilha do Corvo.
Esta estátua teria sido mandada retirar por Manuel I de Portugal para ser levada à sua Corte. No entanto, ao ser transportada numa nau, a estátua naufragou junto com a embarcação que a transportava. Dela apenas restam lendas, histórias e registos nas Crónicas de João III de Portugal e de Damião de Góis.

Lenda da Caldeira de Santo Cristo

Há muito tempo atrás, junto à Lagoa da Fajã de Santo Cristo, um homem desceu à Fajã da Caldeira de Santo Cristo, como acontecia nesse tempo quase diariamente e ainda hoje acontece com alguma frequência, para trazer o gado a pastar. Era uma alternância anual entre as altas pastagens das serras e o clima ameno das fajãs.
Para muitas famílias, era nas fajãs que se encontrava o sustento diário: lapas, amêijoas, polvos, moreias, agriões, inhame e outros alimentos que a natureza dava e dá sem que o homem tenha de os cultivar. Para chegar às fajãs era preciso descer longos caminhos estreitos ao longo das altas falésias, autênticas veredas tortuosas e apertadas como os difíceis caminho das montanhas.
Tendo então o pastor deixado o gado a pastar, para ocupar o tempo livre, foi para a margem da lagoa, onde começou a apanhar lapas para o almoço. Junto da lagoa de águas salgadas, mornas e tranquilas encontrou também muitas amêijoas que aproveitou para apanhar.
Sentou-se um pouco a descansar junto da lagoa antes de ir pescar, sentindo as pernas a tremer com o esforço da descida da falésia. Ao passar o olhar pelas águas da lagoa, reparou num objecto a flutuar junto da margem mais afastada junto ao mar, que lhe pareceu ser de madeira trabalhada, esculpida.
Ao investigar, deparou-se com uma imagem do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da fajã, levou a imagem e colocou-a imagem em local de destaque numa das melhores salas da sua casa. E quando a família se foi deitar, fê-lo satisfeita com a presença do Santo Cristo em casa.
Quando a manhã despontou e a família se levantou para dar início a outro dia de trabalho, o Santo Cristo desaparecera. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: "O Santo Cristo quer estar lá em baixo na fajã à beira da caldeira, pois que assim seja".
O povo decidiu então juntar-se para construir uma igreja. Começaram os preparativos para as obras, com o objectivo de levantar a igreja do outro lado da lagoa. No entanto, quando foram para pegar nas pedras estas não se mexiam, era como estivessem coladas ao chão. "O senhor Santo Cristo quer ficar onde foi encontrado", disse alguém. Alguns meses depois e com muito sacrifício, a igreja estava terminada e a imagem colocada no seu altar. Aquela fajã passou a chamar-se Caldeira do Santo Cristo.
À volta deste estranho acontecimento o povo começou a fazer uma festa em honra do seu santo. Os festejos incluem festas religiosas e festas profanas, canta-se e baila-se. É rezada uma missa e feita uma procissão. Os homens da localidade começaram a entoar uma canção que rapidamente entrou na voz popular.

“O Senhor Santo Cristo
Onde foi fazer morada?
Para a rocha da Caldeira
perto da água salgada.”
— Quadra popular sobre o Senhor Santo Cristo

Conta ainda a lenda que o padre da aldeia que vivia fora da fajã e não se desejava deslocar a ela para rezar a missa, resolveu um dia que havia de levar a imagem novamente para fora da fajã. Tentou pegar na imagem para a tirar do altar e a levar, mas ficou com o pés colados ao chão e sem se conseguir mexer. O padre terá então dito ao sacristão:"Ajuda-me aqui que eu não posso andar". O sacristão bem tentou, mas por fim confessou: "Ó senhor padre, eu também não consigo dar passada!" "Então deixa-se o santinho aqui" disse o padre.
Instantes depois do padre desistir de levar a imagem, os seus pés e pernas ficaram ágeis. Perante isto, o padre e todas as pessoas se convenceram que era ali que santo Cristo tinha de ficar para todo o sempre.

Lenda do Bispo Genádio e as Sete Cidades

Genádio era um rapaz que tivera toda uma juventude de aventuras. Era o filho mimado e rico de um pai poderoso. Um dia descobriu que tinha poderes especiais, particularmente de necromante. Um dia Genádio fartou-se da vida que levava, e fez-se padre e anacoreta. Assim consagrou toda a sua vida e existência a Deus.
Juntando as suas capacidades de necromante à actividade de religioso, rapidamente fez fama que se espalhou e depressa chegou aos ouvidos do Sumo Pontífice, que depois de ouvir os que se contava resolveu fazê-lo bispo. Graças aos seus dotes, depois de arcebispo rapidamente chegou a bispo, sempre usando as suas capacidades de Necromancia.
Numa noite uma criança recém-nascida foi posta na porta da sua igreja da sua diocese. Recolhida pelo bispo, a linda menina foi rodeada de todos os carinhos. Como não se sabia quem eram os pais, ficou ao cargo do bispo e foi educada como princesa.
Foi por estas alturas que as hostes de Mafamede invadiram a Península Ibérica. Vendo-se em perigo, o Bispo Genádio resolveu reunir todos os seus condiscípulos e partir. Mandou construir uma frota de grandes barcos e partir para o Grande Mar Oceano Ocidental acompanhado pela menina que adoptara e por grande número de cidadãos.
Depois de muitos dias a navegar no oceano, chegaram a uma ilha desconhecida e desabitada. Nessa ilha fundearam os seus barcos e resolvendo-a adoptar como sua fundaram ali uma grande cidade por cada um dos arcebispos que acompanhavam a cúria, no total de Sete Cidades.
Depois de muitos anos, a menina de então cresceu para se tornar um bonita moça que começava a chamar à atenção de quem a via. À medida que se transformava em mulher, sonhava e esperava um dia voltar ao grande e distante continente de onde um dia partira. As suas confidências para com as aias chegaram ao conhecimento do bispo que, cioso e com medo de perder a pureza da jovem, preparou-se para a defender de quem a pudesse pretender.
Não tendo outras armas de que se socorrer, voltou a recorrer das suas antigas práticas de necromancia e magia para ocultar a ilha de quem dela se aproximasse. Mas numa certa manhã ensolarada surgiu uma caravela no horizonte, que rumava à ilha e trazia desenhada no velame a Cruz da Ordem de Cristo.
Furioso, Genádio vociferava pelos corredores do seu palácio, sem entender por que os seus dotes de necromancia estavam a falhar. E quando a caravela já estava perto da terra e quase a acostar, recorreu aos extremos do seu satânico poder. Repentinamente e sem qualquer aviso, a bela e encantadora ilha transformou-se em um enorme e furioso vulcão que explodiu, destruindo todo em seu redor. Assim ficou apenas na memória dos poucos sobreviventes a lenda das Sete Cidades que tinham sido fundadas por Genádio e pelos seus seguidores.

Lenda de Angra do Heroísmo

Segundo a tradição, o príncipe dos mares vivia apaixonado por uma linda princesa de cabelos louros que vivia próximo aos seus domínios. A princesa, entretanto, não correspondia aos seus amores por já se encontrar apaixonada por outro príncipe. O senhor dos mares vivia consumido por ciúmes que muitas vezes o levavam à violência, e decidiu chamar uma fada ao seu reino marinho, com o objectivo de mudar o rumo aos acontecimentos.
A fada veio e tentou durante bastante tempo que a princesa desistisse do seu amor e se apaixonasse pelo Senhor do Mar. Fez magias e quebrantos e exerceu todas as suas influências, mas sem nada conseguir devido ao profundo amor da princesa pelo seu príncipe. Furioso, o senhor dos mares acabou por expulsar a fada dos seus domínios.
Um dia, os dois apaixonados, que até ali tinham vivido só da troca de olhares e de suaves devaneios, trocaram o primeiro beijo. Foi um beijo rápido, mas o sussurro dos apaixonados foi escutado pelo senhor e príncipe dos mares, que acordou do leito de rocha de basalto negro e areia vulcânica onde dormia.
A fada também ouviu e atravessou apressadamente os céus em direcção ao reino do príncipe dos mares, pois via a oportunidade de se vingar do príncipe, por quem entretanto se tinha apaixonado, e da princesa que lhe roubava a felicidade.
Quando chegou perto do Senhor do Mar, viu-o furioso a bater-se contra a terra com furiosas e encapeladas ondas cobertas de espuma branca e disse-lhe baixinho: "Príncipe do mar, chegou a hora da vossa vingança. Aqui estou para fazer o que mandardes." Cego pelo ciúme e pela raiva, este ordenou-lhe em tom de ódio: "Correi, fada, fulminai o príncipe que roubou minha amada. Mas... lembrai-vos, só a ele!"
Aceitando o desafio com a cabeça e convidando o Senhor do Mar a assistir à vingança que ia preparar, a fada levou-o pela mão em direcção à praia onde estavam os dois apaixonados. Lá foram encontrar a princesa de cabelos soltos, dourados ao sol poente, levemente reclinada sobre o seu apaixonado.
Rapidamente, a fada soltou a mão do Senhor do Mar e se precipitou sobre o par enamorado, fazendo um encanto: o príncipe ficou transformado num grande monte (o Monte Brasil) coberto de denso arvoredo, levantando-se altivo de frente para o mar. A princesa recusou-se a abandonar o seu apaixonado e ficou para sempre reclinada na posição em que se encontrava. Com o passar os milénios, transformou-se na baía e na cidade de Angra do Heroísmo. Encontram-se os dois unidos e embalados para sempre pelas noites e pelos dias, pelo eterno soluçar angustiado do Atlântico, príncipe e senhor dos mares.