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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lenda da Urzelina

Na crista da enorme cordilheira, que atravessa a ilha de São Jorge de ponta a ponta, erguia-se, há muitos, muitos anos atrás, o majestoso castelo do príncipe Romualdo. A sua corte faustosa entregava-se a orgias, banquetes e outras diversões, que causavam espanto na população trabalhadora. Uma madrugada, a trombeta real ecoou através das montanhas, anunciando a grande caçada que iria começar ao toque das Avé-Marias. Em frente ao palácio foram estacionando as seges, os cavalos, muitos criados de libré, carregados com os apetrechos destinados à caça. Os pobres e maltratados trabalhadores do campo já tinham começado mais um dia de trabalho duro, quando o segundo toque de trombeta soou e a comitiva do príncipe partiu a grande velocidade, rindo de alegria ao galgar os montes. Os torcazes voavam espavoridos pela gritaria, e Lina, amada do príncipe, serpenteando com o cavalo por entre as urzes e rochedos em perseguição de alguns pombos que lhe fugiam, acabou por se afastar da comitiva. Quando deram pela sua falta, esqueceram a caça e procuraram Lina por todo o lado, mas não a encontraram. Voltaram ao palácio, a alegria dera lugar ao desânimo e tristeza. O príncipe mandou encerrar todas as portas, as festas e diversões e, durante as noites e dias seguintes, a sua voz soluçante gritava: "Lina! Lina!", enquanto corria como louco esfarrapado e desgrenhado por precipícios e ravinas à procura da amada. Uma noite, quando voltava ao castelo, Romualdo estacou com um quadro terrível. No fundo de uma ravina, um cavalo morto esmagava com todo o seu peso a querida Lina. O príncipe, correndo, desceu o precipício, beijou o cadáver em petrufacção e entre lágrimas cortou uma trança dos seus lindos cabelos louros. Apanhou um ramo de urze e aí enrolou a trança. Voltou ao castelo, desalentado, como morto. Nunca mais quiz saber de festejos e os cortesãos começaram a chamar áquela planta "Urze de Lina". Passado pouco tempo, o príncipe morreu de desgosto e, com o correr dos anos e o esquecimento da hipócrita corte que o adulava, a sepultura ficou completamente coberta de "Urze de Lina". Em homenagem à dor do príncipe que Deus duramente castigara, chamou-se "Urze de Lina" e mais tarde por aglutinação "Urzelina" à povoação à beira-mar, onde faziam eco as atrocidades praticadas no castelo e onde vivia o povo que sofria a tirania dos cortesãos. A corte aduladora e hipócrita, sem respeito pela morte do príncipe, redobrou as festas e a tirania ao povo, mas foi castigado. Deus, que vela pelos pobres, fez rebentar um vulcão nos alicerces do palácio, a lava soterrou toda a corte maldosa e destruíu tudo à volta, correndo até ao mar.

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